Morte de Anne Boleyn
Todo o grandioso edifício de pedra vibrava com a agitação que se vivia no seu interior. No centro de todo aquele alarido estava Anne, uma linda mulher de longos cabelos negros, de olhos verdes a fitar, fatalmente, todos os homens que a observavam com desdém. Ela, com o seu modo imponente de Rainha de Inglaterra e com a sua sedutora voz ambiciosa de Bolena, diz:
-Senhores, dizei-me do que sou acusada!
Um dos nobres mais insolente cuspiu: -Bruxaria, adultério e incesto!
Anne quase que vacilou ao ouvir tais mentiras grosseiras, mas manteve-se hirta e graciosa como uma Rainha deveria de o ser.
Na sua voz calma e suave pergunta:
-Então, a que veredicto chegaram?
Os nobres olharam espantados uns para os outros e um começou:
-Culpada!
De seguida todos os outros altos senhores de Inglaterra sibilaram “culpada” das suas cruéis bocas. Por fim, o próprio tio Howard de Anne ditou a surpreendente sentença:
-Devereis ser executada. Decapitada ou queimada, como ao rei lhe aprouver.
Anne, depois de se ter mentalizado da morte durante todos aqueles dias que se seguiram do julgamento e que esteve presa, só, na torre de Londres, sobe altivamente para o cadafalso de madeira.
Anne, de terço nas duas pequenas mãos unidas, olha em volta para o seu povo que já não a chamava mais de “puta”, mas de “rainha arruinada” ou mesmo “injustiçada”. Ela, comovida, tira o toucado francês da sua delicada cabeça e ergue o pescoço com a maior dignidade que uma rainha poderia ter. Fecha os olhos e espera pelo desfecho.
Mas, pelo rio Tamisa, irrompe a barcaça real. O rei Henrique VIII entra, muito teatralmente, em toda aquela cena de punho erguido e a gritar:
-Não!
Anne abre imediatamente os olhos e vê o seu Henrique a defendê-la da morte. Deixa escapar um ligeiro sorriso, mas levanta-se com um ar natural como se tudo aquilo fosse um ensaio de uma peça e não a sua própria vida em jogo.
- Eu! Rei destas grandiosas terras, concedo-lhe o perdão, pois nenhuma rainha deve assim morrer. Provando assim a minha misericórdia peço-lhe que se retire para Hever, sua casa, e que de lá mais não saia até ao fim dos seus dias. Exijo-lhe que nunca mais regresse à Corte, nem mesmo à cidade de Londres – Clamava o grandioso Rei de Inglaterra à rainha destronada.
E assim se mudou o rumo da História…