É certo e sabido que quando se tem o prazer de ter um filme
do Tarantino nas salas de cinema, a sua visualização por nossa parte, o
público, é quase uma obrigação!
Quentin Tarantino volta à cadeira de realização e de
argumentista e entrega-nos um Spaghetti Western com o seu Django Unchained que
vem carregado de marcas únicas e específicas da realização deste senhor. E num
período que Hollywood anda a estrangular por novas histórias e inovação,
Quentin continua a mostrar o vigor do seu sangue e a emanar criatividade tanto
no argumento como na sua peculiar realização. Trata-se verdadeiramente de um
génio.
Django Unchained conta-nos a história de um escravo, Django(Jamie
Fox) de seu nome, que foi libertado por um dentista alemão, Dr. King Schultz
(Christoph Waltz) que nada mais é que um caçador de recompensas em pleno século
XIX numa américa ainda esclavagista. A acção decorre e Django une-se com Dr. Schultz
numa demanda a Candyland, plantação controlada pelo magnata Calvin Candie (Leonardo
Dicaprio) à procura da sua amanha Broomhilda (Kerry Washington).
O filme começa com os créditos, bem à Tarantino e é nessa
sequência que conhecemos Django, numa cena de clara homenagem ao cinema feito
nas décadas de 60. Mas é com a entrada de Waltz e o seu caricato Dr. Schultz
que ficamos, de vez, embrenhados no filme até ele acabar. A performance de
Waltz é, simplesmente, carismática. Conquista-nos logo nos minutos iniciais e
conseguimos criar uma empatia enorme com aquela personagem que nada tem a ver
com o desprezível Col. Hans Landa de Waltz no Inglourious Basterds, como em
muitos comentário eu vi por aí. Lá por serem ambos personagens alemãs num filme
de Tarantino e representado pelo mesmo actor não quer isso dizer nada! Waltz
brilha naquela personagem e dá-lhe um toque especial e único, nunca sentimos
que aquele carismático “dentista” é semelhante ao nazi irritante de 2009.
Mas não é só Waltz que brilha nestas duas horas e meia de
filme, Leonardo Dicaprio tem dos papéis mais fortes da sua carreira com o seu
tirano Calvin Candie, o actor arriscou em aceitar tal papel, fazer de ser
desprezível e de “mau da fita” não é bem a sua praia, mas agora digo com todas
as certezas: ainda bem que o aceitou! Jamie Fox tem uma prestação interessante
também, foi um forte protagonista mas muito ofuscado, na mesma, pelas
performances brilhantes dos seus colegas coadjuvantes, Waltz e Dicaprio.
Os planos de Tarantino estão fenomenais e o seu pulso forte
e, ao mesmo tempo, criativo na realização de Django Unchained é fenomenal, tão
fenomenal que a Academia até teve medo de o nomear (raios a partam!). E estas
duas horas e meia, que na minha opinião foram excessivas, visto que o clímax da
acção não corresponde ao final do filme e, na minha humilde opinião, resultaria
melhor se os dois coincidissem, foram sempre acompanhadas por uma curiosa banda
sonora que vai de temas mais característicos dos Westerns até ao inesperado Hip
Hop que, na verdade, foi uma escolha arriscada mas muito bem sucedida.
Isto é Tarantino, isto é cinema, isto é o vencedor dos
Oscars (se o mundo fosse justo).
Avaliação: 18.5/20