17 de maio de 2011

A Côrte Inglesa


Ele, soturnamente, vagueia o pesado e desinteressado olhar pela sua frenética vazia corte. Repara no subtil e engraçado cortejo entre alguns cavalheiros e certas damas. Repara nos aplicados músicos que tentam não errar nos acordes da melodia para não desagradarem o rei. Repara nas alegra distantes danças de uma alegria algo postiça. Repara em todo aquele movimento que, de certo, não o atrai.
Quando se prepara para sair do trono e recolher-se nos seus aposentos repara numa elegante mulher de vestido francês que lhe fazia salientar bastante os seios que lhe captaram a intenção. Depois de os analisar é que reparou nos longos cabelos de um negro fatal, na face redonda com as maçãs do rosto bem encarnadas a contrastar com a sua brancura pálida, na sua fina, mas sedutora, boca, no seu esguio nariz e nos seus expressivos olhos de um verde hipnótico. Movia-se com uma elegância e rapidez típica de uma atraente serpente que fora educada na luxúria da corte francesa.
Ele fez-lhe um gesto, ordenando que se aproximasse. Ela, com um ar sedutoramente misterioso e subtil aproxima-se e com a sua voz melódica disse:
-Desejais algo? Vossa Majestade.
Ele, ainda atarantado pelo desejo que lhe corria nas veias sibilou:
-Como vos chamais?
Ela, decidida diz:
-Ana Bolena.

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