11 de fevereiro de 2011

Rabiscos Mentirosos


Ela, eufórica, sorri quando o vê – de barba rala, de verdes olhos confusos e brilhantes, de farda verde-escura gasta, de feridas profundas na cara e nos braços sujos – a desembarcar do grande navio que trazia os tristonhos ansiosos retornados da avassaladora guerra.
Ela, sem saber o que fazia, corre na direcção dele e abraça-o com todas as suas forças. A angústia de meses explode num soluço e rapidamente desaparece, dando lugar à alegria de o ver. Aperta-o contra o seu volumoso peito e sente o seu amedrontado coração a bombear rapidamente o sangue por todo aquele corpo lesado.
Ela, a chorar, agarra na cara dele e, de olhos pregados nele diz:
-Philip, come back. Come back to me… - e soluça novamente…
O vazio volta e uma pesada lágrima cai nos rabiscos escritos por ela. Os rabiscos que na verdade não passam senão de uma falhada forma de tornar o desejo em realidade. O desejo de o ver, de o sentir, de o amar…
Mas a cruel verdade da morte prematura e longínqua de Philip esmaga, todos os dias, o tosco coração dela, espeta-se-lhe na carne os aguçados punhais que não a deixam viver a mentira que os rabiscos lhe tentam contar. A mentira de o ter para si…

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